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domingo, 21 de junho de 2009

Michel Foucault, reloaded

"O exame, cercado de todas as suas técnicas documentárias, faz de cada indivíduo um caso: um caso que ao mesmo tempo constitui um objeto para o conhecimento e uma tomada para o poder. O caso não é mais, como na casuística ou na jurisprudência, um conjunto de circunstâncias que qualificam o ato e podem modificar a aplicação de uma regra, é o indivíduo tal como pode ser descrito, mensurado, medido, comparado a outros e isso em sua própria individualidade; e é também o indivíduo que tem que ser treinado ou retreinado, tem que ser classificado, normalizado, excluído, etc."

Michel Foucault: Vigiar e punir. Rio de Janeiro: Vozes, 1987. Página 159.

Comecei esse post com essa citação do Foucault principalmente motivado pela publicação de uma notícia que, embora não seja uma novidade no sentido estrito, me assusta pelo novo caráter de aceitação inconteste.
Trata-se da reportagem Empresas pões saúde como meta para dar bônus, da Folha de São Paulo.
Nela, são descritas as empresas que vinculam parte da remuneração variável de executivos não mais apenas ao atingimento de metas financeiras ou operacionais. Melhor dizendo, são operacionais sim, só que agora de uma outra máquina, que é o corpo humano em si. Além de aumentar o market share em x%, você deve reduzir o seu colesterol em y%.
Em uma análise prévia, parece ótimo, não?
Acredito que não. No fundo, acho que é uma das coisas mais assustadoras que eu vejo atualmente.
Pois bem: se eu quiser ter um estilo de vida sedentário, o que que alguém tem com isso? Se eu não estiver afim de comer coisas light ou então de regular minha alimentação? Sério, fora eu mesmo e, no máximo, algumas pessoas do meu círculo mais próximo de amizades, o que que uma empresa tem com isso?
Acho simplesmente um absurdo ter esse tipo de vinculação; tal medida, na minha opinião, é uma flagrante invasão da empresa no campo mais pessoal, que é o da saúde. Uma tentativa grotesca e assustadora de controlar a vida nos seus mais íntimos detalhes.
Já não chega dar blackberry para todo mundo? Agora vai ser o que? Colocar medidores no corpo dos executivos para avaliar o cumprimento das metas? Instalar GPS nos carros particulares dos caras pra saber como eles estão se divertindo? Instituir uma meta para a executiva vinculando o rendimento às notas dos filhos na escola?
Será que isso só parece absurdo para mim?

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