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segunda-feira, 29 de junho de 2009

Pequena serenata (da balada) noturna

Gustavo chegou às 6:00 em casa - maldita lei seca, pensou.
Ainda por volta das 3:00 ele conversava com um casal, uma amiga, outro nem tanto (porém um pouco). Todo um clima - meio libertino - que pairava no ar. Se alguém era de alguém, certamente não tanto naquele momento.
De todo modo, ele parou. E viu o que não queria ver; ouviu o que não queria ouvir. Não, nada de mais. Nada tão crítico. Nenhuma doença grave ou morte certa. Nada que mudasse. Mas, de algum modo, aquilo mudou.
Viu naquele casal algo que ainda não havia sentido. Uma coisa meio esquisita. Parecia, por um momento, que aquelas duas pessoas realmente se gostavam. Estranho, muito estranho. Gostar-se, em um ambiente como o contemporâneo, é quase um crime. Mas, ainda assim, pareciam que se gostavam. E ponto.
Essa secura, essa característica autossuficiente. Algum tipo de sentimento - não o amor, aquela coisa comercial e romântica que a Coca-Cola e a Visa tentam emplacar para vender mais. Também não era a paixão, embora tivessem momentos de paixão. Mas era algo único, que existia no tempo e no espaço, mas que não existia. Era aquilo que era. E apenas isso. Autossuficiente.
E que raios era aquilo? Por que nunca havia ainda sentido aquilo pessoalmente? Sim, por que se era tão forte para ser sentido à distância, sem estar diretamente envolvido, talvez fosse algo bom.
Gustavo saiu desarmado daquele momento. Uma situação inédita. Toda a lascívia, depravação, degenerescência, o que quer que seja. Tudo isso não conseguiu, por alguns instantes, suportar. Por alguma razão, aqueles segundos entre o objeto do desejo conseguiram alterar o desejo em si. Transformou-se em algo impuro, proibido, vergonhoso.
E Gustavo foi para casa pensando, triste e feliz ao mesmo tempo, imaginando se era tão ruim assim ser uma pessoa ruim. Talvez, em algum momento, a inveja tivesse seu valor. Enquanto sentimento autossuficiente, claro.

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