Mude para o Firefox!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O diploma de comunicação social (ou "Acerca dos compartimentos científicos e das corporações de ofício")

Caros e inexistentes leitores,
venho acompanhando com relativo interesse essa confusão toda relativa ao fim da exigência de diploma para o exercício da profissão de jornalista.
Talvez alguns de vocês (meus inexistentes colegas) lembrem que um dos meus primeiros posts foi sobre o projeto de lei para regulamentar a profissão de DJ.
Sou advogado - bacharel em Direito e aprovado naquela simpática prova da OAB. OK, pois bem. Contudo, por alguma razão mística do destino, acabei seguindo a área de tecnologia, misturada com a comunicação. Bem, acho que é isso, a não ser que outra pessoa consiga dizer onde se enquadra "Novas mídias".
Esse é o problema.
Desde a chamada Revolução Científica que se colocou no imaginário ocidental a idéia que é possível dominar o conhecimento, buscando-se a verdade (ah! a verdade, que maravilha...) através do método científico. Então, como de uma hora pra outra, o estudo das relações monetárias entre países deixou de ser um ramo da política propriamente dita - daí o nome original de "Economia Política" na época de Adam Smith - para ser alguma coisa mística chamada de Economia.
O ser humano é estritamente racional e se comporta dessa forma quando decide. Bem, pelo menos é isso que se dá como pressuposto de quase todas as teorias econômicas.

O conhecimento vira algo dividido em compartimentos, e dessa forma é estudado. Claro que em algum momento ia entrar na cultura popular essa idéia que Política é completamente diferente de Engenharia, por exemplo.

Bem, falo isso porque acho que o princípio é o mesmo. Ainda sob a égide do mesmo princípio que dominou as corporações de ofício da Idade Média, as profissões se organizaram no Brasil sob castas, que dominam a produção e a legitimação do conhecimento.
Acho que as únicas profissões que deveriam ser regulamentadas são as relacionadas à área médica: medicina, enfermagem, fisioterapia, educação física, psicologia, nutrição, etc., exatamente pelo seu caráter de potencial dano à saúde do indivíduo, o que não tem como se controlar de outra forma.
Mesmo como advogado, acho que, embora a OAB tenha sua importância (grande, por sinal), o exercício da advocacia não deveria ser restrito aos bacharéis em Direito, assim como o exercício da Administração não deveria ser restrito aos bacharéis em administração e, em última instância,
o exercício da Comunicação não deveria ser prerrogativa exclusiva de bacharéis em comunicação.
Não que as faculdade sejam inúteis, pelo contrário; se o são, é por problema estrutural dos currículos no Brasil. Contudo, cada vez mais vejo que o Direito se torna um mero instrumento para se atingir o concurso público. Discussões sobre justiça, liberdade, igualdade, etc, passam longe, pois não caem nas provas. Chega-se ao cúmulo de colocar como mais importante saber qual a doutrina infinitamente minoritária escrita em um livro de baixa vendagem por um desembargador apagado intelectualemnte mas que pertence à banca examinadora (que, por uma miraculosa coincidência, passa a vender bastante) do que qual o conceito de Bem em Platão e qual a influência disso na nossa concepção de justiça contemporânea.
O problema em torno do fim do diploma para o exercício do jornalismo é, na verdade, a ponta de um outro iceberg, a saber: a completa inutilidade da maior parte dos órgãos de classe que, sendo inúteis, não mais justificam esses modelos arcaicos de corporação de ofício.

Assusta-me (divertindo-me, contudo) ver que o debate tem se concentrado no argumento de "a profissão de jornalista é muito importante e não pode ser comparada com a do cozinheiro" do que propriamente o lado mais estrutural, profundo, que reflete as mudanças na sociedade.

Conforme sempre digo aos meus (existentes) amigos: mudança, pensar 'fora da caixa', sinergia, trabalho em equipe, pró-atividade, etc. Tudo isso é lindo na teoria e é bonito em papo de RH e mesa de bar. Contudo, no cotidiano, conheço pouquíssimos que não sejam avessos às mudanças. De fato, muitos vão tentar conformar a realidade aos seus preconceitos, que vão continuar pensando o mundo como composto por diferentes compartimentos, vai adorar trabalhar em equipe desde que 'o seu' esteja garantido e adorará pró-atividade, desde que não necessariamente deva começar com ele.

Der Übermensch.

Por isso eu acho que certos paradigmas precisam ser mudados. Até porque sem mudanças a coisa fica muito chata e monótona.

2 comentários:

  1. Peter,

    Interessante a visao da defesa das associacoes de classe... na realidade o exeercicio de ADM nunca esteve nas maos dos admonistradores. Por ser profissao nova, sofre com o "bullying" das profissoes mais "classicas".

    Minha esposa e' jornalista, trabalhou com um monte de velhacos na Radio Globo como stag e la' viu o desdem dos "jornalistas" pioneiros quanto ao diploma dos estagiarios...

    Todavia, vemos um cara como o Bonner escrevendo livros e sendo ancora a anos de um dos maiores telejornais do Brasil.

    Adiciono a sua ideia de que a a faculdade tem seu valor uma ideia mais iluminada... a da certificacao publica, nao da universidade mas sim de um orgao como o MEC atraves de concurso.

    Logo, voce poderia estudar na faculdade, com professor particular ou em casa sozinho, nao importa. O que importa e' adquirir o conceito minimo necessario para que possa exerce-lo.

    UGA

    Toninho neles!

    ResponderExcluir
  2. Hehehe...a do Toninho neles foi ótima! No fundo, como era a Academia de Platão, não é? Vejo com bons olhos um modelo como o Collège de France, que acredito ser uma das melhores instituições nesse sentido.

    ResponderExcluir